microtango

reto
discreto
sem papo
sem caco
li
que existe uma partícula chamada Deus

H. L. C.

da serie  'por um instante'

antes de colapsar

relva verde
pequeno mamífero em sede
a pensar numa estrela de neutro
perdida num canto da memória

H. L. C.

da serie 'por um instante'

poema mentiroso

o poeta é fingidor
e faz versos de carne e rostos
a vida vai bem
o sentido manda lembranças

H. L. C.

da serie 'por um instante'

polaroid discreta

morena da cidade dande
criança grande
de castanholas na mão
cantando música no relento
um pássaro verde
pelo "mais pequeno"
dos teus pensamentos

H. L. C.

da serie 'por um instante'
 

cucuias

a liberdade bateu à porta.
de aorta cheia,
a liberdade foi ao otorrinolaringologista.

H. L. Couto

da série 'por um instante'

sereia do mar

o mar
cá
azul
de amor
teu
encheu em
flor

H. L. Couto

da série 'por um instante'

telegrama nº 3

vida
vento
levou

H. L. Couto

da série 'por um instante'

carta p/ Olívia

O Turquemenistão é um belo país.
Lá, eles tem tudo o que me interessa.
Lá, a vida caminha sem pressa.
No Turquemenistão, todas as manhãs
são madrugo-manhãzinhas agradáveis,
improváveis manhãs-irmãs
das manhãs
do Manuel Bandeira de carne-e-osso,
cedinho a acordar
e a sair comprar leite na quitanda,
a preparar o café
com pão-torrado e livros,
na varanda.
O Turquemenistão fica n'algum lugar
do lado de lá da esquina do mundo.
Quem lá nasce é muito boa gente.
Suas praças são fluviais e
todo o povo tem automóvel branco,
mas prefere andar de canoa.
Suas garotas são magras e inteligentes;
tudo lá é quase perfeito.
Muito mais, até,
do que este poema sem jeito.

H. L. C.

da série 'cartas p/ Olívia'

neofobia

medo de novo
medo do novo
medo de sair do ovo

H. L. C.

da série 'dura poesia'

"dicionariando"

hábito:
patologia,
às vezes,
denominada
amor.

H. L. C.

da série 'avant la lettre'

tout est vanités

com seu olhar de boba,
cedo na vida
Gigi perdeu-se:
"ela era ela mas não era ela,
tinha uma face
mas não tinha uma face?",
indagava ao espelho.

H. L. C.

da série 'dura poesia'

mi caminito

verde caminito
por onde no início das manhãs
trilhava meus sonhos
e te avistava logo à porta
com teu sorriso de fada sininho
a me trazer um café-figo
um afago-fico
um quase-amor

H. L. C.

da série 'carbono 14'