domingo, 28 de dezembro de 2014

garça branca

de súbito, perdeu-se o amor
que, ainda de boca molhada,
foi-se...
usando salto agulha nº 36.

H. L. C.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

rascunhos

o mar
e suas ondas prateadas
afagam meu olhar...
e o céu nublado,
agasalhando o chão molhado,
vai revelando pouco a pouco
a  beleza desta manhazinha,
que nasce
bailando lentamente
sobre as promessas de natal.


H. L. C.


sábado, 6 de dezembro de 2014

mão na mão

à  porta de casa,
feito cataventos de duendes,
aí estão tuas cordas vocais 
derramadas
em  impiedosos abraços,
aí está o timbre de tuas pernas longas,
e teus olhos 
de "francesinha" morena,
suplicando-me ajudas de amor.

H. L. C.

domingo, 23 de novembro de 2014

à mulher com nome de vinho

procuro os detalhes da tua chegada
os detalhes do teu rosto
os detalhes dos poros do teu corpo
procuro os detalhes de nossas andanças
os detalhes do teu mergulho em minha cama
os detalhes dos teus lábios finos,
próximos aos meus, soletrando o meu nome
procuro os detalhes da tua implicância
os detalhes da tua inconstância
os detalhes dos teus mamilos
os detalhes do teu senso estético
procuro os detalhes do teu nariz libanês
os detalhes de tua aptidão de fêmea árdua
os detalhes de tuas urgências e carências
procuro os detalhes de tuas fragâncias
os detalhes de tua esperança
os detalhes de tua força
procuro os mais microscópicos detalhes de tuas palavras amáveis
os mais discretos detalhes e sentidos de tuas loucuras
os detalhes leves de nós dois ao sol
ou embriagados no sereno noturno das árvores molhadas
procuro os detalhes de tuas curiosidades
os detalhes de teu mundo já misturado ao meu
os detalhes do teu caos
os detalhes dos teus medos
procuro os detalhes do milagre da multiplicação das nossas  horas
os detalhes de tua cintura levada em minha mão
os detalhes das nossas leituras
das nossas brigas
das nossas pazes
procuro os detalhes das mútuas cousas divididas
os detalhes das estrelas compartilhadas no erotismo das insônias
os detalhes das garrafas de vinho abertas
procuro os vestígios dos teus sapatos  nas pedras das ruelas
os vestígios do cheiro do teu bolo de canela
os ecos de tua canção cantada à capela
procuro os detalhes dos teus olhos:
pequenas janelas indiscretas de minh'alma.

H. L. C.





segunda-feira, 17 de novembro de 2014

quase felizes

o amor prescinde do amor.
unem-se as almas pelas grandes ilusões!
e os grandes sorrisos,
sem avisos...

H. L. C.


rua nº tal

houve um tempo
em que um pedaço de Mosccow furtou-me um buquê de flores
um tempo
em que um pedaço de Moscow furtou-me
uma "matilha" de buquês de flores
houve um tempo em que colhi flores em Moscow.

H. L. C.

fora de hora

dia de neblina,
dia de chuva-carolina.

H. L. C.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

poema apressado

no aeroporto,
enquanto retocava a cor café das unhas,
deu-lhe ela um beijo furtivo,
apertou-lhe as mãos,
voltou à bolsa, de pronto,
redesenhou os lábios em cor de boca molhada,
fitou-o,
escreveu algo em relâmpago no bloquinho,
entregou-lhe um bilhetinho,
e, de finhinho,
tornaram-se
amantes.

H. L. C.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

milagres de Santo Antão de Furjal

ao entrar em casa de El Rei
naquele fim de tarde de um dia do ano de 1728
lá pelas tantas
meus olhos
debruçaram-se fitos
sobre o nobre espírito
de uma tal senhorita filha dos da Mata,
fresca e cristalina quanto a própria fonte d'água que o patriarca presenteara Sua Magestade,
era a tal uma moura,
encantaDoura,
uma iguaria
que durante o jantar mostrou-se
capaz de alumiar toda a Lisboa.

H. L. C.




Les Champs Élysées

tens um furacão no ventre.
tens um sol na mente.
e ainda es um anjo tão gente,
servindo-me a sopa,
ajeitando-me a gravata,
com teu doce riso cascata.

H. L. C.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

milagres de San Pitsburgo

não há beleza maior
que esse mar azul madrugada
abrindo-se em  temporada,
abeçoada,
de minhas jovens pálpebras notívanas,
avermelhadas...
observando a Deus, que me fala
por meio de pontes
que prometeram levar-me ao céu silencioso das águas de Maria.

H. L. C.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

milagres de San Tiago

e quando nas noites de verão
a grande nebulosa
se avistava no céu,
os pioneiros do padroeiro de minh'armas
desciam, devotos e serenos,
pelo solo dos pirineus
e semeavam por todo o norte de España,
chegando a San Tiago de Compostela
ali, ávidos de fé, e do aconchego do colo da grande mãe
 matavam d'uma cabaça
um pouco da  sede
ao que miravam ao longe
a Real fronte de nossa Casa:
o Santo Ibérico Castelo de Palmela.

H. L. C.

domingo, 9 de novembro de 2014

Inês

terras boas pra dar pão,
o alto do morro,
a  fonte cristalina,
teu coração.

H. L. C.

sábado, 8 de novembro de 2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

sábado, 1 de novembro de 2014

parodinha de Itapira

quando nasci,
um desses anjos debochados
me disse:
- vai, gauche!,
ler Carlos na vida...

H. L. C.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

a la fritz lang

gosto de faces
de diálogos
de tocar trompete
para uma gata num teto de zinco
gosto do tennesse
dos bondes chamados desejo
gosto de beber minha b. b. queen
ela rindo aos azulejos
gosto das elisabetes
das shadows
meio nocivas
meio bobas
que elas sempre levam nos olhos
gosto das mulheres sob influência
que estão sempre a perguntar:
- quem tem medo de vírgínia woof?
e houve um dia em que também gostei dos pequenos peitos de virgínia
e se bem me lembro, dizem que a virgínia é um bom lugar pra se morar
gosto das mulheres que cagam para glauber rocha
e idolatram lars von
gosto das winonas que roubam tudo que veem pela frente
gosto de faces
e de fatos
e de rabbits
e de palhaças loucas
e de good day today
e de loucas e magras
transfiguradas de um desejo azul
gosto de potenciais medeias
das melancólicas
que em parte do dia se deixam ser ninfomaníacas dilaceradas
gosto das elisabetes
que nas madrugadas de verão se enfiam em batons vaga-lumes
sem economizar no non-sense

H. L. C.


do que nos dizem as ruas

dobrem à esquina:
há uma festa por aí.

H. L. C.

de repente, um vestido

também nós morremos um pouco
quando alguém que já foi um conhecido
se torna
um desconhecido.

H. L. C.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

experimento em pequenas tintas nº 1

o laço
dos lábios unidos
iludindo
os vidros
em calor
do pavor
do horror
do amor
que os deixa assim...

H. L. C.

aromas

naquele pedacinho de Petrolina:
quanta beleza,
num único rosto
de menina.

H. L. C.

sábado, 25 de outubro de 2014

maiá kracívaia diêvuska

que seja meu amoleto
e nunca me deixe de encantar
segurarei sempre na sua mão
os dois, a passear
você, minha manhã mais linda
o aconchegante despertar
dos corpos grudados do vinho
planos
cama bagunçada
planos
sorrisos
café da manhã de sábado pra tomar

H. L. C.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

afinação

olhinhos negros,
doces,
vivos!,
pequenininhos,
às vezes,
grandes!
às vezes,
bravos!
olhinhos de Andaluzia...
olhinhos sob o piano de Frederico Jusid
olhinhos mochos, 
da despedida na  estação de trem.
vivos!,  
no reencontro de aeroporto.
olhinhos pedintes
gritantes
que abraçam
que correm
que correm
que correm...
olhinhos de lágrimas
olhinhos aconchegantes
que correm
que choram
que guiam um nariz a um pescoço
uma boca a um beijo
olhinhos que dizem “ciao”.

H. L. C.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"good times never seem so good"

hoje,
por dois ou três segundos,
o vento trouxe o seu cheiro,
cheiro de lilás,
e materializou-se 
um anjo
diante de mim.

H. L. C.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

um croqui

com essa flor
que tem hoje metida entre os cabelos soltos
sente-se aqui
enfeitada dentro desse vestido púrpura
de menina grande
sente-se aqui
nesse fim de tarde de domingo
nessa fotografia de realismo fantástico
sob essa luz
que realça a cor da pele de seus braços
nos gestos incontáveis de suas mãos
com a energia irresponsável desse sorriso
sente-se aqui
com o desenho dos seus lábios
com essa alegria debochada
com milhões de caretas histriônicas de amor
para mim
com o cheiro de sua nuca
com centenas de palavras expansivas
e unhas pintadas de café
com esse vestido púrpura
de menina mulher
sente-se aqui
dizendo-me que já nada do que passou importa
rindo-se de suas manias
de suas neuroses
louca para sair andando pelas ruas
e desenhando na areia molhada da praia
com os olhinhos negros brilhando
de lábios desenhados
me desenhando
molhados em púrpura
sente-se aqui
dê-me mais alguns beijos
e outro abraço apertado
em meio às suas pulseiras e braceletes
esperemos ainda um pouco
me abrace
sente-se aqui
rindo-se de mim
cante para mim
olhemos para o céu
dê-me um papel
façamos um croqui
de uma poetisa
com seus seios médios rosados
que carrega uma linda flor entre os cabelos
e entre as mãos pequeninas
uma garrafa de vinho do Porto 


p/ Andrea

H. L. C.

domingo, 20 de julho de 2014

segunda-feira, 16 de junho de 2014

terça-feira, 10 de junho de 2014

pequeno retrato vespertino nº 2

Sou como o José, do Drummond.
Sem teogonia.
Matuto de algum lugar Itapira.
Passando uma hora esperando  o verso, que ainda não veio.
Um não Raimundo deixando de ser Raimundo.
Voltando a ser gouche, minha casa!
Passando longe longe de poemas-quadrilha.
Caminhando para minha "Minas".
Sou como o José, do Drummond,
Abrindo as jaulas da selva,
compondo valsinhas,
para esses olhinhos verdes de Cristina.

H. L. Couto.


domingo, 8 de junho de 2014

Assim como morangos silvestres

de longe, tu es como a paisagem de um filme de Ingmar Bergman:
fria, rústica, indomável.
de perto, es aconchegante, encantadora, docemente bipolar...
gostas de flores e
de brigar.

H. L. Couto.

sábado, 31 de maio de 2014

Telégrafo

Carta minha, d'outro dia, ao Machado de Assis:

"Caríssimo,

Andrea amou-me por uma meia dúzia de orgasmos


e oito garrafas de vinhos do Porto.




Do seu mais atento camarada, H. L. C.

Salvador, 2014."



sweet girl of wine

vinho
flor de crastro
cheiro de pizza
Angie na cama
stones no ar
msm intruso às 00:40
e ela se vai
pela metade
deixando-me de herança esse poema
inacabado
de um domingo que nasce já azul!

Hedre L. Couto

sexta-feira, 30 de maio de 2014

um mês uma flor um show de bossa nova

silenciosos afagos
bobos amados
que dizes tu de mim, hoje?
há tempo pra tudo
inclusive pra modinhas de violão
que cantam furtivas chegadas
ao pé do muro de tua casa depois da meia noite


Hedre L. Couto


doce libanesa que não quer mandar-me às cucuias

e vou-me assim
cada beijo meu nesses teus temíveis lábios finos
é o meu horror
porque es o meu amor
e em cada beijo meu em ti
eu morro
porque a cada um desses instantes já não sou mais eu
sou um outro
mais enlouquecido
melhor enlouquecido
do que aquele morto
que agora já mais vivo
tu fazes feliz
para logo matar em seguida
com suave voz de mulher inteligente


Hedre L. Couto

domingo, 11 de maio de 2014

decalque

areia úmida já do por-do-sol
e descalços vamos decalcando
o caminho
é que teus pés, pequeninos,
dançando dentro de minhas pegadas
travessos
são tão gentis
sutis
comovem a maré
que tímida
detém-se
a contemplar
essas duas covinhas que tu tens no rosto

H. L. Couto.


sábado, 10 de maio de 2014

isla

na alegria de nossa ilha negra
o inverno vai chegando
e brilham as pedras suplicando
pelo choque amoroso e forte das ondas
sintoma da estação é
essa maniazinha grande de diminutivos
uma pausinha pra nós
e, querida lulu, avise para quem interessar possa
que eu não quero mesmo saber desse diabo de whatsapp
pois tudo que me faz contento já tenho
o teu cheirinho fresco ao sair do banho
um blues pela casa
uma  tigela de caldinho verde quente na cama
teu hálito de vinho do porto

H. L. Couto

sexta-feira, 9 de maio de 2014

tu cumpleaños


bombom de amendoim,
chá-de-maça.
ah, a tua pele cálida...
odeio tanto e quero tanto a cada tanto tua saia tão curta...
amores afora,
lá fora.
e aqui dentro, no escuro,
tua pele tão branca
e tua anca,
molhada,
faz-me lembrar que o diabo sempre perde para uma mulher de "gêmeos".

H. L. Couto

Temprano

o uísque, o sexo...
os olhos risonhos quando lhe abro as duas pernas, segurando-as forte...
o fingir ter vergonhazinha de ficar nua, na cama... tão bisonha... tão nhõnhã... derramada.

H. L. Couto

Lu

minto.
pinto.
escrevo em todo o teu corpo.
entro.
passeio.
escavo.
beijo.
devasso.
julgo.
peço.
faço.
faz-me um café, nesta noitinha de chuva, querida lulu?

H. L. Couto

pequenina

sua boca tocou-me
com a inocência de um cravo...
"ilhou-se" em mim.

H. L. Couto

quinta-feira, 1 de maio de 2014

outono-inverno

Comprei um "Quintana" novo,
de capa tão linda
e versos tão  leves.
Fui ao cinema.
Voltei a fumar.
Lembrei-me de ti.


H. L. Couto.