quinta-feira, 3 de setembro de 2015

já lá pelas tantas

A empáfia do verso me aborrece:
ei-lo no meio da noite, prematuro,
qual um projeto de gente apressada por chegar no mundo,
berrando pela cesariana custosa.
eis que urgente faz-se aviar os instrumentos:
pega-se de papel e caneta,
pois o verso, impertinente,
já vem de pés e pernas e tudo pra fora.
e... com tanta agonia cortou-se o cordão umbilical da inspiração
e o sono espalhou-se,
e o poema, de fraquinho,
danou- se.

H. L. C.

entre raimundos e vagabundos

eu queria ter nascido Ricardo Darín
ou Cartola
eu devia ter nascido Salvador Dalí
ou Jamelão
ou Noite Ilustrada
e eis que quase nasci Buda

H. L. C.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

flor despida

quando se deu o meu encontro
com as tuas costas nuas,
fez-se pleno o verão.
tudo pareceu solução...
pontes foram erigidas,
a aurora encheu-se de cores completas,
todos os poemas tornaram-se impressionistas,
as árvores, antes mortas,
voltaram à margem do rio,
perdia o meu medo de rodas-gigantes,
a Sibéria deixou de ser,
tudo volveu
quando toquei em ti.
e lembrei-me de acreditar
que em cada flor
mora um suave Deus
pescando em arroyos...

H. L. C.



pelas gretas

todas as horas contigo:
horas perdidas.
mas, qual o que!:
horas de bem-querer...

H. L. C.

pequena Mary

amor.
costume que deixa a boca torta,
a alma bossa
e a poesia lorota.

H. L. C.