quinta-feira, 16 de junho de 2016

Candice

Candice....
nesse disse-me-disse,
os olhos de Candice
a me aparecer...
à beira do mar,
a rir-se de mim,
a me abusar...

Candice...
e seu vestido florido...

Candice...
à porta de casa,
a despedir-se de mim,
a acenar,
a dizer-me:
"benzinho,
até loguinho. vou ali!
pode esperar.
pode esperar.
pode esperar."

H. L. C.

Da série 'carbono 14'

quarta-feira, 15 de junho de 2016

bule-de-chá

noite de chuva,
ela em meio aos livros
a ler e a trabalhar.
agasalhada.
cabelos soltos.
pernas de óculos na boca.
armada de sua caneca colorida
e de seu bule-de-chá florido
de pequenas flores campestres.
ela é uma rima rupestre.
rima abusada.
estacionada
no meio do meu melhor poema,
cujo título é:
"não quero te mandar às cucuias".

H. L. C.

da série 'natureza viva'

segunda-feira, 13 de junho de 2016

amor-amor

o amor,
tímido a trazer-me sanduíches no trabalho.
o amor,
doce e pálido.
teu amor,
gentil como o orvalho.
amor que não mereço,
a trazer-me tortinhas de café.
deste teu amor-amor, mulher,
tanto careço.

H. L. C.

da série 'natureza viva'

instantes

tu e eu
saídos por aí
vestidos de óculos grandes e engraçados
beijando em elevadores
disfarçados
comendo os instantes
amantes

H. L. C.

da série 'natureza viva'

tu

tu,
na frente de minha casa,
a mostrar-me o  novo disco.
vestida de branco.
cheia de capricho.
feliz!

H. L. C.

da série 'natureza viva'

sexta-feira, 10 de junho de 2016

que traduz surpresa

encontramo-nos na rua.
trocamos um "oops!"
e de uma interjeição divertida,
se fez surgir uma vida:
ali, começávamos.

H. L.C.

da série 'natureza viva'

quinta-feira, 9 de junho de 2016

tic-tac nº 3

ei, garota amarela.
dá-me um pedacinho de teu amor-aquarela.

H. L. C.

da série 'natureza viva'

chin-chin ou falando ao teu ouvido

o gosto do seu chá
       já
       me leva
    a outro lugar.
    lugar comum.
      será?
      enfim...
      tim-tim!!

H. L. C.

da série 'natureza viva'

natureza viva

o teu olhar se espalha
e espalha o teu corpo
pela ponte
da vastidão
do corpo do outro

H. L. C.

da série 'natureza viva'

estrelinha

hoje vestida de verde
cor de teus olhos
tão doce nome
teu sorriso batom
bastante constante
o teu corpo sem fim
já tão minha
já tão assim
minha Maria

H. L. C.

da série 'natureza viva'

de lampejo

a vida da moça,
que estava em pausa,
criou duas asas
de vida louca.
trocou o adeus por tantos beijos
quantos pode carregar em seus beijos.
é que mudou-se de rua,
apaixonou-se de lampejo...

H. L. C.

da série 'natureza viva'

domingo, 5 de junho de 2016

borboleta

radiante quando pousas em minha mão.
raio de vida.
leve e colorida.
borboleta.
atrevida.
aonde vais agora, depois de teres vindo daquele caule?
de quantos sóis és feita?
satisfeita?
onde arranjaste este cheiro de flor-princesa?
de quem roubaste esta língua-acesa?
que lindo é o teu sorriso-coração.
e teus olhos-verdes-vale.
borboleta lisonjeira.
livre como a nuvem passageira.
hoje, que é feriado,
devias comigo ficar acá,
um bocado...

H. L. C.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

pois morreste!

morreste!
que triste...
fizeram de tua bonita casa
um lugar para casamentos.
que lamento!
tudo podias perdoar,
mas não essa traição.
da mansão de outrora,
só restou o retrato do sentimento,
daqueloutro tempo.
hoje, por mais que lá desfilem
fraques e vestidos de gala
dessa  sociedade,
vaidade!
são todos esses corações alugados!
gente?, nunca mais houve no teu palacete.
verdade?, quem já lá a perdeu?
da tua casa, o brilho foi roubado.
as janelas usurpadas.
tornaram os corredores tão frios.
as escadas nuas e escorregadias.
e das árvores, as folhas são secas, tão secas...
não há mais cheiro de terra no jardim,
a grama sintética.
os vizinhos são patéticos,
debiloides,
rejeitos de espermatozoides.
bem diferentes da camaradagem de antes.
na tua casa,
que não é mais a tua casa,
não há mais abraços,
afagos,
café da manhã com suco de tamarindos frescos
e churros... não,
na tua casa não há mais
os "teus" felizes que dormem e acordam
e que, por vezes, no domingo à tarde,
caminhavam até o cinema do bairro.
a tua casa hoje é habitada
em meros pedaços do dia e da noite
por uma gente
pançuda e
suada,
vulgarizada.
a tua casa que antes tocava boa música,
e era eloquente,
hoje é estridente,
o piso que um dia foi de madeira,
é de línguas de serpentes.
a tua casa que era de arquitetura tão bonita,
e que tinha saída para infinitas ruas,
agora está cheia de gruas,
microfones,
bandeiras,
luzes que não são luzes.
a casa que um dia foi tua
hoje é carapuça
que serve a idiotas...
pois morreste!

H. L. C.


quarta-feira, 1 de junho de 2016

composição para não ter ciumes

nada como o sorriso de Ana Maria,
num café,
sentada, tomando café.
o sorriso de Ana Maria, de pé,
no trabalho, tomando café.
nada como o sorriso de uma Ana Maria qualquer,
mesmo que de Ana Maria não tenha nem o nome,
mas só o café.

H. L. C.