domingo, 31 de julho de 2016

Ruth

a ruiva
sardentinha
não gosta de andar na linha
não gosta de rima
não gosta de arroz
não gosta de feijão
gosta de azeite
e manjericão
a ruiva sardentinha
é muito curiosa
e até muito prosa
ainda outro dia
perguntou-me como se faz um poema
e eu disse-lhe que não sabia, não
por isso, como de praxe,
corou-se
intrigou-se
e insistiu em saber, então,
como é,  às vezes, falar dessas coisas do mundo
e das coisas do coração
e eu, já apressado,
confessei-lhe:
- ô, sardentinha,
não sei nada disso, não.
até mais tarde!,
e não se esqueça de comprar o pão.

H. L. C.


sábado, 9 de julho de 2016

versinhos de ninar

de todas as cores
quero teu amor
pra rimar com flores
mas, devagar com o andor
vê que esse meu jeito de olhar pra ti
nada quer dizer
se não gostas de mim
te mando esta canção
feita sem vagar
que tanto quer dizer
mas, pouco vai falar
vontade de ir, então
então, vontade de ficar
talvez, eu seja assim
e tu tenhas razão
não sei ser namorado
estando apaixonado
eu que pensei em fazer uma valsa
meio engraçadinha
perdi todas as caixas
de minhas aspirinas
e saí-me com este fado
fado-de-brincadeirinha
pra arrancar um sorriso teu
que rime com todas as flores
de todas as cores
a dançar com o sorriso meu

H. L. C.

poema suicida

como instiga
essa minha amiga
com rostinho magro
delicado
a despedir-se
indo ao Recife
disse que volta
aposto que volta
e pra ficar.

H. L. C.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

pensando alto

que mulher estúpida!
e magra
e pálida
e de olhos verdes
que mulher!!

H. L. C.

sinais

o amor
que acorda logo ao de manhã cedo
a ir comprar jornais
sonhando com a casa do cais
amor-arvoredo
sem medo

H. L. C.

domingo, 3 de julho de 2016

9 passos

éramos notas dispersas
motivos distantes
melodia afônica
arranjos perdidos
hoje: somos Pink Floyd

H. L. C.

é

nasce a luz mansa da manhã de domingo
enquanto os búlgaros olhos verdes dela
ainda estão dormindo...
pois ao longo da noite, foram como faróis
guiando o marinheiro do inverno à primavera...
agora,
sob a aconchegante aurora,
o seu corpo lívido
desenha entre os lençóis brancos
doces montanhas e vales de aromas floridos...
pássaros suavemente iniciam a cantar, vívidos
o seu mundo saboreia a boa preguiça do despertar...
e faz-se o sol...
e ela chove, delicadamente...
e o café torna-se almoço.
sem pressa.


H. L. C.