segunda-feira, 22 de agosto de 2016

da série 'cartas aos poetas amigos'

carta minha, d'outro dia, ao Mário Quintana:



             Mário, carambolas, desculpe a hora!

             É que tive um desses pesadelos miseráveis.
             O que fez-me recordar do sobrado onde, 
em pequeno, moraste!
             
             Sim, aos "fatos":
             Batata que sonhei ser o fantasma da Ópera!
             Que lorota! Já sei o que dirás: - "disparate!"
             E isto ainda não foi tudo. 
conto-te:
             agora que despertei, descobri-me uma paráfrase
             barata
             do F. Kafka:
             olhei-me no espelho:
             pasmei-me:
             que situação:
             sou um maldito pássaro pi-i!
             Mas, Mário, carambolas,
             a essa hora, ocupo-te e trato apenas de mim?
             Afinal, como está o teu resto de inverno?
             Use meias, Mário. Não descuide das tuas meias... 
             piadas!
             
                     Bom, a hora já lá vai alta!
Hoje, me despeço de ti como os russos: 
"dôz dânia, mói daragôi!"
                   
                      H. L. C. salvador, agosto de 2016.
          
             
             

backup gratuito nº 3

compro todos os teus delírios;
ouço todos os teus suspiros;
em plena tarde de um domingo,
sou o teu anjo de todos os teus reclames.
explicação?
não gosto de aplicação em Renda Fixa.

H. L. C.

backup gratuito nº 2

gosto de escrever com tinta preta
sobre papel pastel
ouvindo Ravel
minha inspiração?
às vezes, vem do inferno
às vezes, vem do céu

H. L. C.

backup gratuito

dei de desenhar o teu corpo
em todos os corpos que toco
deveras assim me alimento do que sofro
e já não me importo

H. L. C.

domingo, 21 de agosto de 2016

stoik mujic

pele doce
marquinhas que tem descaminhos
timbre que bebo suavemente
olhos verdes de vidro aveludado
alma de manhã moura/pálida
vestida de violeta
magra
costas nuas
rijo secreto pecado
espetáculo
para o qual comprei todas as entradas
e inevitavelmente bêbado
invado a ribalta
para cuidar do melhor ângulo
do teu rosto escandaloso

H. L. C.



3

meu reino,
que ainda não tenho,
por esta pintinha que tens no queixo,
como estando marcada,
com uma minha marca,
a dizer-te minha.

H. L. C.


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

res desperdicta

o tempo
o som
o tempo e o som
do som
que deforma o tempo
a fazer tantos outros tempos
tempos sóis
tempos sãos
tempos seus
meus
o som do tempo
de quantas vidas vividas
já perdidas
e renascidas
com os tempos deformados
pelo vento
do som
sempre a beijar o tempo
quantos tempos
quantas mãos
devem haver no tempo
ou tempos
deformados
afagados
pela vida do som
lá estou
vários de mim
tão distintos
maravilhosos e maravilhados
vestidos de tantas vidas
quantas cabem
na infinitude dos tempos
muitos e muitos de mim
paridos pelos tempos deformados
quase perfeitos e acabados
o tempo
todo e qualquer tempo
deformado pelo som
não há espaço
não há tempo
há a vida
o som da vida
em tantos de mim
dos quais não sei nem milésimo de palavra

H. L. C.

jocandi animo

aonde vai a coisa perdida?
aonde vai quem a coisa perdeu?
aonde vão quem e a coisa,
perdidos no breu?

H. L. C.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

pontinhos vivos do coração

tu foste o meu achado.
enfim,
te conheci.
te acarinhei.
te curti.
te sorvi.

H. L. C.

da série 'poesia ao contrário'

dúvidas de uma fadinha a Peter Pan

"dúvidas:
- o que fará para que eu me apaixone por você?
- quer muito mais o que?
- me quer por quantas noites?
- consegue definir saudade?
- tem uma frase: 'o que eu te amo quando eu te amo'.
- pergunta: o que você gosta quando você gosta de mim?"

H. L. C.

da série 'poesia ao contrário'