terça-feira, 23 de maio de 2017

espanto

olhinhos fitos
olhinhos figo
olhinhos fico
olhando-te
surge lá ao longe
na esquina
tão menina
vindo a passear
olhinhos cantam
olhinhos encantam
e eu roubo
e eu roubo
e como quero mais roubar-te
olhinhos
cheiro
de ninho

H. L. C.

da série 'a bailarina"

quinta-feira, 11 de maio de 2017

mysteriously

cinzeiros
cigarros
noir
amanhece
noir
passagens
teses
bogalhos
baralhos
trabalho
cinzeiros
cigarros
café
chá
noite
noir
amanhece noir
livros a esperar
o amor a esperar
o caminho
o escaninho
a vida antes tarde do que muda
janelas grandes
livros a esperar
trabalho
cinzeiros
cigarros
amanhece
o amor a esperar
a bailarina dança
sapateia
quando já é noite
e quando amanhece
tenho uma infinidade de caligrafias
cinzas
cinzeiros
cigarros
nas manhãs chuvosas
ela desfila com o seu vestido molhado
os livros a esperar
o trabalho a esperar
o apito
a bailarina dança
sapateia
cervejas de trigo
o amor a esperar

H. L. C.

da série 'a bailarina'

segunda-feira, 8 de maio de 2017

312

corra Isabel
a consertar a minha rima torta
pois acabei de perder a palavra certa
e sinto-me tolo
socorro Isabel
pois um verso verde meu
precipita-se desembestado ao encontro teu
e perde-se na esquina da página branca e fria e luminosa
pobre verso anônimo
prostrado no orvalho
"pensaralho"
assim como eu

H. L. C.

da série 'Isabel'



embusteirando

sim
e não
o fim fundo
para além dessa roda-gigante
para além dos pescoços mais compridos
das girafas-de-todo-o-mundo
o que há lá
por detrás
da nuvem
da montanha
que abraça o mar
e deixa o meu coração tão nauseabundo

H. L. C.

da série 'poesia em degrau'

terça-feira, 2 de maio de 2017

dimensão infinita

a rua cinza e fria
eu
e um velho cego que sentado num banco
tocava clarineta
havia uma bailarina em minha cabeça
ou diante de mim

H. L. C.

da série 'a bailarina'