terça-feira, 17 de abril de 2018

poema trilegal

fui à Rua das Flores,
na tarde de ontem,
e, próximo das Casas Maria,
a moça conheci
de cujo nome já me esqueci.
hoje, voltei à dita rua,
e, num canto, mais para a Viela da Deusa Nua,
esperei, em vão, a moça voltar a passar...
me aborreci.
estranhamente,
voltei a casa cantando uma velha canção russa,
que fala de uma girafa
que telegrafa
a um camelo.

H. L. C.

da série 'poesia em degrau'


harmônica, ou de quando fazíamos fogueiras de papel

ainda lá está ela
bailando em nuvens
ou sobre uma quase desconhecida nota musical
ainda lá está ela
no branco e preto da varanda da velha casa
aonde íamos escondidos após o por-do-sol
amar e ruminar o mundo que queríamos
maldizer o mundo real
ainda lá está ela 
a falar de seus instrumentos musicais preferidos
a tirar do bolso uma poesia da semana passada 
falando do seu jeito sobre esperança
medos
e coragem
por fim rasgava o texto
escrevia outro
comia o novo
ainda lá está ela
alegre e triste
a limpar a gaita entre os cabelos
cor de milharal já em tempos de colheita
a tocar a gaita
alegre e triste
a pedir-me que jamais a deixasse 

H. L. C.

da série 'coisas que falam de outras coisas'