quarta-feira, 30 de maio de 2018

à queima roupa

e exigiu-me um poema
à queima-roupa
era meia noite
de meia lua
ela de lua
sentados ao ar fresco
de uma mesa de bar
na cidade velha
uma garotinha solitária
que já não tinha pai
que já não tinha mãe
já viajara o mundo
fantasiosa
que só tinha a dança
e uma receita de comida mexicana
e umas poucas lembranças
que quase chamou-se Joana
porque teve uma bisavó portuguesa
mas herdou o nome da norueguesa
gostava de Piaf
de azeitonas
de doce de leite argentino
de dormir nua
da sorte incerta
uma ou outra vez no ano se maquilava
se pudesse às vezes dormia muito
outras vezes pensava em estar sempre desperta
'linda garotinha chuvosa
doce manhã cinzenta de junho
aconchego quente da lã
fresco chá de romã'

H. L. C.