terça-feira, 18 de outubro de 2011

Um Café



O meio da manhã estava cinza, e de dentro do Café parecia ainda mais inverno. Sentou-se à pequena mesa ao lado da grande vidraça que dava para a rua. Pediu um chá, quis um cigarro, abriu o jornal e esforçou-se para não ir diretamente à página de política. Quis um cigarro. Deu uma olhadela prudente em volta, notou que um casal fumava tranquilamente, enfim, pensou, que terra abençoada, ali se podia fumar. A gravata incomodou, tratou de aliviá-la.  Trouxeram-lhe o chá. Depois, churros. De um cheiro aconchegante. Lembrou-se de Alice. Notou que já ia pela metade do caderno de política, não havia resistido. Tudo estava tão silencioso. Pessoas comiam, e sequer se ouvia os tintilhar dos talheres. Gente educada de modos e traços elegantes. Um pequeno raio de sol atravessou o vidro e marcou o trecho do parágrafo que lia. Pôde ouvir pássaros. E escutou passos. Extremamente agasalhada. Sob um guarda-chuva, ela surgia, vinha caminhando leve e concentrada. Trazia os cabelos em chanel. Usava chapéu. Nas mãos, leite, pão e morangos. Só restou a ele findar o cigarro. E recordar-se de como era doce ir para casa tomar café.

Hedre L. Couto

Nenhum comentário:

Postar um comentário