segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

no tempo das cerejeiras

oh, céus!:
a vida estranha.
tudo culpa da latrina do Duchamp.
latrina do Duchamp.
latrina do Duchamp.
nunca mais conversei com Beckett.
nunca mais falei a Tchekhov.
frases, frases,
todas as frases, agora, serão tão vazias quanto aquelas
de Liev Tolstói?
Nicolai, Nicolai... Gogol, Gogol, vamos tomar um bom vento na cara, Gogol!
Turgueniev, ah, Turgueniev, tens o único sorriso no qual acredito, Turgueniev.
Allan Poe, seu Kafka de calças curtas...
Kafka de calças curtas...
Kafka de calças curtas...
Talvez Nabukov, sim, Nabukov e Wilde, aquele exótico,
nos ajudassem a superar esses tempos tão birutas...
qual a melhor idade para um homem morrer, Anton Pavlovitch?
tu es um excêntrico. sim.
sim, excêntrico!
um excêntrico mascate de palavras.
sobre a minha pergunta, de outro dia...
responda minha pergunta, Anton Pavlovitch.
saiba que aquela obra tua me causa imenso horror.
me destroça a alma.
como o tempo destroça a alma, Anton Pavlovitch.
ah, o tempo destroça a alma.
o tempo que destroça a alma.
o que terá passado com Maiakovski, aquele pequeno filho da Georgia, Anton Pavlovitch?
eu queria tocar piano, agora, Anton Pavlovitch,
queria dizer que o ar está puro e que a tempestade passou.


H. L. C.

da série 'últimas poesias'

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