segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

posfixo

e então,
ela me disse que gostara muito da frase,
gostara muitíssimo da frase,
porque a frase era incapaz de criar
qualquer imagem,
era incapaz de criar qualquer imagem:
era uma frase nua.
arrependeu-se.
consertou-se.
 - que bobagem eu disse., corou-se.
eu já não estava lá.
isso eu soube depois.
 - de quando em quando podíamos falar?, bradou ela.
farei uma viagem. penso em fazer uma longa viagem, redargui-lhe eu.
 - sei aonde vai... sim, sei aonde vai..., corou-se, novamente, inquieta, depois absorta.
de tempos em tempos em vou, você sabe. eu já contei-lhe que tive, uma vez, uma poesia
e a perdi, mesmo tentando segurá-la, avidamente, pelo rabo?, inquiri a ela, de súbito.
- e poesia tem rabo?, interessou-se, bebendo coca-cola.
(muito enfático) sim. as que se parecem com estrelas do mar tem, sim.
- sei aonde vai..., recomeçou, de olhos fechados. depois abertos. depois fechados, piscando.
de quando em quando eu vou, você sabe., olhei pro lado oposto e finalizei.
ela sentiu tristeza. mas disso, eu apenas soube muito tempo depois.

H. L. C.

da série 'últimas poesias'




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