sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

após um vestido vermelho manchado de vinho

nua, 
e teus olhos assim,
a roubar-me?
tens me roubado.
quantos corpos teus tens para mim?
quantas de ti há em ti?
nua,
deitada de lado, exibindo os quadris gentis.
nua,
só de soslaio, com as costas côncavas, puras e peraltas. 
nua,
na cama, sentada penteando os cabelos
e teu corpo brincando de ser carne.
nua,
de cambalhotas na cama,
conferindo a cor das unhas, 
fingindo querer vestir-se no meio da manhã.
nua,
flertando com o perigo que há em mim.
nua,
falando-me das águas do rubicon que atravessamos juntos a peito, ao longo da madrugada.
nua,
uma bailarina minha cantarolando as curas de um amor afônico.
nua,
pedindo para ser escrita com canetas especiais, enquanto penteia os cabelos.
nua,uma índia eslava livre
compondo as tintas do nosso vivo estado de natureza.
nua,
jogando na latrina as certezas.
quase-nua, 
de seios à mostra, debruçada sobre a janela lendo o jornal e fazendo pouco da rua...
e dum vestido vermelho rasgado manchado de vinho.

H. L. C.

da série 'poesia em degrau'

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