quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

borboletas azuis a cavalgar em campos de algodão


matando
o passado
voando inteira
deu-me a mão
chegou-me à beira
envolta
no cheiro de uma leve sonata eslava
o espírito livre
como eu, sartreana
sem alpercatas
sem fantasmas
bailando no escuro
entre suas pernas, mil fanfarras em sol
sem grilhões
espantosa gentil
bebendo do vento
gostando de falar
gostando de ouvir
tantos alentos
tantos talentos
sem mentiras
confessando-me todas as mentiras
sem fingimento
mulher de carne
não de cera
sentada à beira
já será ela, agora?
doce e brejeira?
sem tormentas
com pimenta
nós livres como Sartre ainda em sua juventude
mentirosos nós dois, como Sartre?
rindo da vida
da despedida
da desmedida
loucos pelas estradas
ela voando brejeira e doce
dona de um rafeiro alentejano
tantos desejos
voando
esbaforida
colorida
vivida
fingida?
doce brejeira de olhos inteiros cavalgando 
nos nossos novos campos de algodão
matando o passado
aprendendo a viver vivida
sem mentiras
sendo mulher
sem quiproquós 
sem alpercatas falsas
sem disfarces líquidos...


H. L. C.

da série "poesia em degrau"


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