segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Experimento sob afinação n. 01

a poesia é morta, querida Inês...
por mais que eu tente,
não sou
Renoir
Degas
Monet
para capturar a luz
e te impressionar...

em mim, não há nada de Pierre August,
de Edgar,
de Claude...
vejo o mundo de um modo surreal...
e, com minhas letras,
flerto com o pontilhismo...
mas, qual!
todas as paisagens me são afetas.
das pontes,
feitas a pinceladas fortes,
emergem tuas pernas
longas,
torneadas,
magras,
pernas de garça branca...

e da aurora,
teus cabelos,
cor de milharal já em tempos de colheita,
derramados sobre minha face,
fazem brotar dos meus olhos todas as flores do mundo,
flores! flores de todos os cantos
com as cores do espanto
girassóis russos imensos,
ou pelo menos o cheiro deles,
parece nascer dos teus cabelos cor de milharal...

mas não adianta, tola Inês...
jamais serei manet
muito menos monet,
minhas paisagens são pífias
e na minha cabeça tenho apenas uma pintura guardada...
na verdade, um croqui,
desses que não valem de nada:

quando fecho os olhos,
sempre que posso,
vejo uma margarida branca,
metida num vestido branco,
que me fala por meio de notas musicais,
é quando de sua boca
ouço óperas de Wagner em elipses viscerais
e meu sangue corre para terras desconhecidas...

H. L. C.

da série "poesia em degrau"

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