quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

vista d'olhos

quem sabe lá detrás daquela serra,
da serra de Eça de Queirós,
também eu encontre o meu pedaço de chão?
e lá queira viver
sem avistar pé de gente.
ah!, Queirós, gigante português,
de que doença morrerei eu?
amigo meu,
estou doente!
a morte me assombra e me desterra,
roubando-me a paixão
do querer-ser,
embotando-me em burguês.
amigo meu,
estou doente!
e de que doença morrerei eu?
será algo feroz?
bactéria atroz?
loucura, de quando em vez?
então, assim é que é:
vou-me a comprar uma quinta naquela serra,
do outro lado da serra de Eça de Queirós,
o gigante português.
porque estou doente... não vês?
e lá, de gente não quero avistar pé.
estou doente!
e a morte me assombra e me desterra.
quando mais não seja a fé,
da minha morte morrerei eu?
será afasia?
constipação?
pulmão?
loucura bravia?
estou doente!
e do outro lado da serra verde farei uma casinha
e darei figos para a fêmea andorinha 
estou doente de contente!
pois a morte assombra o meu viver ramerrão.
mas, de que mal padeço?
será pulmão?
o coração?
a cabeça, dor de dente?
oh!, gigante português,
amigo meu, 
que inveja que tenho
daquilo que a vida te deu,
sei que tu sabes do que estou a dizer.
farei a minha casinha na serra:
plantarei milho,
terei vinho,
e não quero gente ao pé de mim.

H. L. C.

Da série 'meus poemas quase-póstumos'


Nenhum comentário:

Postar um comentário