segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Millene sob polaroid I


acordou depois do outro, no meio da manhã.
Ainda na cama, vestida apenas de seu longo colar de pérolas, calçou freneticamente os altíssimos sapatos pretos.
Levantou-se, abriu as cortinas do quarto e debruçou-se demoradamente sobre a janela, enquanto fumava à visão da rua. 
Caminhou até o espelho despindo a nuca, predendo os famigerados cabelos pretos. Rapidamente passou à sala. 
Avistando-o na cozinha, sorriu-lhe com os olhos. 
Estava especialmente inquieta, embora permanecesse imóvel naquele instante, o que a tornava ainda mais deslumbrante. 
De pé, magra, alta e tão inacreditavelmente delineada pelo equilíbrio de suas curvas, trazia na face uma expressão inusitada. 
Ao lado havia uma pequena mesa redonda cujo centro era habitado por um esplendoroso jarro de orquídeas. Sentou-se na única cadeira. E foi ali, nua, ou bem melhor, vestida de salto alto, que cruzou a perna direita sobre a esquerda e armou-se de papel e nanquim, deixando que sua mão esquerda - sim! porque canhota - a conduzisse naquela criativa febre matinal. 
E eis que o verbo calou, tornando pouco úteis as palavras, porque tudo nela era a própria tradução da similitude do que de mais sublime podia-se sonhar do charme feminino: 
tão perfeita e tão simples; tão divina e tão banal. esqueceu-se ela de mim por alguns minutos. E eu, de mim mesmo, posso dizer, 
enquanto admirava o efeito da impertinência do colar, que teimava em revelar a apaixonante assimetria angular de suas aureolas.

p/ Millene
Hedre L. Couto.


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