sexta-feira, 21 de setembro de 2012

doces pequenos pés impecáveis

quando ela se pinta e vai para a rua...
diz que vai ao cinema,
diz que vai caminhar,
escolhe a bolsa,
adora sapatos,
e troca de brincos,
e morde o espelho,
procura as chaves
esquece a janela
pensa atrasada
café da manhã
nem pensa almoçar
gruda o i-fone, tablet, chicletes, maçã
é a mãe que liga
é a campainha a chamar
é ele que chega
é ela que corre,
com urgência nos lábios,
num disparo de beijos,
ainda não sabe ele
mas, hoje ela quer,
precisa de algo,
é um jato de hormônios,
é um doce diabo
um uísque nefasto:
eis uma mulher,
de belas longas pálidas pernas nuas,
aflitas por cavalgar!

H. l. Couto

p/ "M".
desafinada. e sedutora, como sempre.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Curtinha

Domingo de manhã,
céu azul,
saio pra comprar maças,
sob os olhos verdes de Cristina.

H.L.C

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Cosi Cosi

e toco tua cintura
e me anelo de ti
e sinto teu ventre
prometendo-me amor
o teu sob o meu
e eivados de ardor
dois corpos
em uma suave mentira molhada
confessa-te apaixonada
e repete-te e repete-te 
numa danação transtornada
dois olhos negros
dentro dos meus
meus olhos rijos 
comendo os teus
de poros abertos
gemidos ao teto
gritas e explodes em estrondosos
'afes!'
confessa-te apaixonada
bebendo de minha boca
comendo de meus lábios
dando-me os teus quadris
em dantesca revolta
e já sou apenas espasmos do pior dos canibais
quero a tua carne
o gosto de tua carne
e devoro-te e devoro-te
pra dali mais a pouco
meses a fio
zun-zun-zun de prazer
amor é isso mesmo:
dois corpos juntos
colados
escravos
se destruindo 
uma vódka alucinógena,
es tu,
meses a fio
zun-zun-zun de prazer
tu es o meu vício em mim
meu pior hábito
limbo do meu inferno
teu sexo em brasa
tuas pernas
senhoras de minha cama
te gozas de mim
e assim e assim
quer ir e não vai
cosi cosi
de manhã
de dia 
meio dia
e de noite
e me dizes que amor é assim
sem platonismos
e reclamas de mim
que eu ando distante
sem tempo pra ti
limbo do inferno
meu pior hábito
tu es o meu vício em mim
meses a fio
zun-zun-zun de prazer
e repete-te e repete-te
com teu corpo sob o meu
confessa-te apaixonada
hoje eu sou teu
mas, amanhã?
sei de ti. 
sei de mim.
juras de amor na cama
são folhas secas já caídas no nascer da manhã

H. L. Couto

quarta-feira, 28 de março de 2012

Gosto de ti

Gosto de ti porque es alegre.
E eu sou triste.
Gosto de ti pela tua risada tão solta e espalhafatosa
Enquanto eu tenho andado tão discreto e contido
Gosto de ti por não teres semelhança com ninguém de quem eu jamais gostei
E eu ando tão diferente de mim mesmo
Gosto de ti porque basta eu te olhar para já saber qual é a de nós dois
E es tão atenciosa nas menores trivialidades
Gosto de ti pelos teus seios tão bonitos e tão grandes e tão duros
Tuas pernas sempre me desafiam
Gosto de ti porque já sei aonde iremos
E as covinhas de tuas bochechas
Gosto de ti pelo teu sexo, pelo teu hálito, pelo teu gozo
Pela vida que exala de tua cor morena
Gosto de ti por conta da nova palavra preferida
A paciência,
Gosto de ti porque sucumbe o meu passado
reviravolteando as minhas certezas
Gosto de ti porque es amiga  e escrota!
E eu...
Finjo-te que já não sei aonde iremos...

Hedre Lavnzk Couto

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Para onde vão os táxis de nova York no final da tarde...

Eu estava eufórico!... Tinha acabado de encontrar, ouvir e comprar um Jackie Mclean! Disco raríssimo. Ouvira o álbum inteiro, duas vezes, em transe absoluto. E perdi completamente a noção do tempo ali, envolvido nas paredes uterinas daquele templo do vinil, maravilhado pelas figuras inclassificáveis que juntamente comigo, numa mistura incomensurável de línguas e cores, excitavam-se na busca do tesouro musical inesperado. A pior parte veio quando eu perguntei how much is a...? “U$ 20”, disse o vendedor com sotaque de australiano. E eu pensei: “stop Thief!” Um jamaicano sussurrou, tentando ser engraçado “it’s an emergency!” E eu concordei amistosamente: Yes. i lost my wallet! I’m lost... Paguei. Nova York tem dessas coisas, pequenos prazeres custam mordidas contundentes na carteira...
 Saí pela porta lateral da lojinha, que mais parecia uma daquelas pequenas e aconchegantes casinhas típicas dos bairros boêmios de new orleans. Parei ainda perto da porta, na calçada, e fiquei alguns segundos a observar a dinâmica daquele lugar e daquela gente esquisita e cativante. A música estava em tudo, estava na imensa frota de táxis amarelos que passavam e paravam, elegantemente, ao esticar dos braços e acenar das pessoas que procuravam neles um meio mais rápido de alcançar o destino. A música estava no andar, nas roupas, no gingado dos indivíduos  que se misturavam com gente de todo o mundo e que seguiam juntos na coreografia do dia pelas ruas. A música estava no sorriso e saía pela boca graciosa de uma negra bonita, volumosa, que pendurava, para secar, roupas lavadas na pequena sacada de um prédio meio maltratado pelo tempo. Havia música na pluralidade majestosa das maneiras daquele povo, nos jovens que num estacionamento vizinho, improvisavam um basquete de rua convidativo, e, sobretudo, percebia-se a musicalidade no charme maroto das jovens suburbanas que trocavam comentários secretos, enquanto assistiam aos namorados desfilarem habilidade com o esporte. Observava essa cena e tudo me lembrava ‘Uma rua chamada Pecado’, de Tennessee Williams; também me veio a cabeça a atmosfera de ‘A morte do Caixeiro viajante’, de Arthur Miller.
Ali estava eu de férias, quase final de férias, no bairro do queens, leste do rio. A essa altura um pobre turista fascinado com Long Island City, quando recebo uma trombada de um italiano grave e desajeitado, acompanhado de um argentino pedante que ainda me ordenou que lhe dissesse as horas. half past four in the afternoon!, encarei o relógio e soletrei automaticamente sem acreditar. Estava atrasado. E como faria Alice acreditar que o motivo da impontualidade fora a embriaguez causada por um disco Jackie Mclean? I’m lost!, pensei. E por que cargas d’água estou pensando em inglês?, retruquei-me. Bom, o lado leste do rio era instigante, mas reencontrar Alice, incomparável, isso se àquela altura ela ainda me desculpasse. Quase cinco da tarde, estico um braço, os dois braços, aceno para os táxis que passam e nada. Passam um atrás do outro. Pessoas perto de mim também acenam, e vão padecendo da mesma irritação. Em alguns minutos, noto que todos os táxis que passam pela rua estão vazios e com a luz “Fora de Serviço”, acesa.
Eu precisava atravessar toda a Queensboro Bridge, depois passar pela 11 th Avenue,  onde pegaria minhas malas, para em seguida voltar à cidade, especificamente ao centro, onde me encontraria com Alice, que me hospedaria nos últimos dias. Atrasei-me feio. Ambos avessos a celular, Alice já estava desde o início da manhã a Oeste de Manhattan. Ditou nosso encontro às 17, para o chá... como ela costuma brincar: “as 17, em ponto. Ou te jogo pelo Empire State Building!”  
... e eu, às 20 horas...:  - Good evening! Forgive me, please, miss Times Square... i lost my wallet!
Hedre Lavnzk couto

Leia a Lápide

Quando eu morrer, quero que leve uma flor ao meu túmulo. Mas não tema, garota, isso não lhe roubará muito de seu tempo. Tome rapidamente um coche de aluguel e siga, sem pestanejar, pela SC-45, na direção norte. À altura do Km 252, verá uma grande e velha placa ostentando ‘Nova Fronteira’, adentre o caminho da placa. Estrada de chão, um pouco maltratada, mas não fará mal, o ar é bom, venta-se bem, ademais o caminho já é quase findo. Em 36 minutos alcançará um velho apiário desativado, ladeado por duas pequenas casas, de uma delas, da cor verde, certamente um assíduo ancião, esquálido, sorridente, lhe abraçará um olhar gentil. Talvez chova. Mais adiante, seu tédio arrependido será cortado por duas crianças atravessando o carro de súbito, o que lhe causará um pequeno susto, mas logo se recomporá. À última parte do caminho nem sofrerá com a distância, dividida entre o aborrecimento que lhe causou o meu pedido e a imagem feliniana do motorista anão que não tira os olhos do seu belo nariz libanês. Aí está, ou aqui estamos... Vê? Lê? Garota esperta... “Recanto dos Estrangeiros”. Peça pra parar. Não deixe que entre com o carro. Precisa descer e ir a pé. ‘Respirar sempre!’ Esse foi o conselho que lhe dei, lembra? Por falar nisso como andam os seus piri-paques com o ar-condicionado do cinema? Às vezes ria-se. No passo 27 achará curioso o nome do lugar, algo meio Camus... Enfim, pensará que se trata de uma bobagem. Sim, quadra 9. Ala 18. Lhe passará pela cabeça o fato de eu nunca ter gostado de cemitérios. Estranha também será a recordação de que da mesma forma tinha grande desprezo por hospitais. Como espera encontrar o túmulo? Siga... reto... direita, direita, direita, direita... gostou da árvore? Cafona não é? Eu também deveras teria achado o mesmo. Ou pior. Eis-me aqui: número 63. E a flor? Flor de rúcula, lembra? E única, apenas uma! agache-se. Buh! Belas agorlas, garota. Mas o que houve com os seus olhos? Leia a lápide. “Wall-e-e-Eva"
Hedre L. Couto.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

*" - onde diabos pôde surjar-se assim de lama num tempo tão seco?"

Mas que tolice, Alice
Deixes disso.
Sabes que não tens motivo algum.
Vamos, levante as pálpebras
Gosto tanto de vê-las...
Encontravas-te contente há menos de um minuto
Conte-me: o que tinhas para mostrar-me?
Sim... O vestido. Notei, claro! Eu gosto! Seus bordados...
Hei! Não faças assim com o nariz, ou acabaras por quebrá-lo em dois...
Isso. É. Melhor assim... Quando te ris...
E digo-te mais... Queres saber? Devias agradecer aos céus pela rinite
Porque ficas ainda mais linda falando em teu Gripês.
olha,  e eu te trouxe um jazz,
Sabias que não posso ver um pão de alho que me lembro de ti?
Ouve? Olha à janela...  Pena, né, foi só uma chuvinha passageira...
Um dia desses vamos tomar chuva.
Mas não assim, falo de uma chuva intensa, sabe?
Vamos sair pulando pelas ruas, feito dois loucos, descalços, dançando na chuva
E se aparecer um daqueles carrinhos de sorvete
Daqueles que eu nunca te deixo tomar...
Serei até capaz de abrir uma exceção
Tens de ajudar-te
Não posso fazer certas coisas por ti
Não reclames
Talvez agora haverá
Eu de minha parte...
Onde está o nosso rosé?

Hedre.


* a frase título é de Balzac.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E nos rimos...

Ali. Sentada no mesmo lugar. 
Com teus quadris gentis. 
O mesmo rosto, confortável. 
As pequenas orelhas. 
Tuas grandes argolas. 
Os olhos negros. 
O charmoso cuidadozinho com a lente. 
O nariz. Tua doce rinite, apaixonante. 
Tua boca. O teu jeito de reclamar dos incríveis lábios, finos, lindos, meu doce inferno. 
O hálito, do céu. 
A tua testa, bela. 
Os cabelos. Negros. Muito negros. Finos. Delicados. Lisos. 
Tua nuca, pedinte. 
Teus seios, pequenos, rosados, duros, tão santos, tão diabos. 
Tuas mãos, pálidas, minha vida, vida de muitos. 
Tua pele. Pura. Teus poros. Minha língua. 
Teu vestido, como todos os outros, também este branco, por ti bordado. 
Teu pescoço, o pequeno cordão. 
Teu queixo. Teu cheiro. Teus pensamentos. Teu brilho. 
Uma palavra que vem. Tua voz, inimitável. Deus. 
Teu sorriso que surge. Que me faz contente. E nos rimos. 
A folha da pequena palmeira, que nos brinca a roçar as costas. 
Tuas panturrilhas. Os pequenos pés, que sustentam o meu anjo. Quem precisa de asas? 
A lua. Grande. Como a fazer festa. A poesia. Tudo é teu. 
Só nós. Nesta noite. Que canta. Como a saber-te: Minha. Minha. Senhor dos teus lábios finos. Eis um quase-amor. 
O resto não se escreve.

p/ Carla
Hedre Lavnzk Couto

...NÓS, OS ELEFANTES...

Dizem que os elefantes sabem quando vão morrer.
E, então, serenos,
sobem discretamente o aclive da montanha.
Lá, encontram sua última inspiração.
- Ando de tromba sintonizada. Mea culpa.

Hedre Lavnzk Couto.

Os Pinguins

Conheceram-se dentro d'água. 
E logo estavam na areia. 
E na cama. 
E nas ruas. 
E no cinema. 
E nas festas. 
E nos amigos. 
E nas viagens. 
E na família. 
Quando estavam um no outro, 
o amor acabou.

Hedre L. Couto

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

'Romeu and Julieta'

a praia.
um beijo.
o sol.
uma lágrima.
o coco verde na lixeira.
o retrovisor.
um olhar no horizonte.
a esquina que dobra.
lágrima.
o relógio que martela.
cheiro de lilás.
a promessa quebrada.
quinta marcha.
o amor.
de binóculo.
chocolate quente.
sem rabanada.

Hedre L. Couto.

Linda, nesta noite...

Copacabana nesta noite são dois olhos negros diante de mim.
São os dois lábios finos de que tanto gosto.
São cabelos, agora curtos e castanhos.
É uma nuca nua.
É uma pele branca, beijada pelo escuro de um vestido ousado.
Mão suave que toca o meu rosto com unhas pintadas de café.
Copacabana, nesta amável noite de julho, é uma desconhecida de há muito tempo que,
de braços cruzados,
me ganha e me apavora,
misteriosamente.

H. L. Couto

Millene sob polaroid I


acordou depois do outro, no meio da manhã.
Ainda na cama, vestida apenas de seu longo colar de pérolas, calçou freneticamente os altíssimos sapatos pretos.
Levantou-se, abriu as cortinas do quarto e debruçou-se demoradamente sobre a janela, enquanto fumava à visão da rua. 
Caminhou até o espelho despindo a nuca, predendo os famigerados cabelos pretos. Rapidamente passou à sala. 
Avistando-o na cozinha, sorriu-lhe com os olhos. 
Estava especialmente inquieta, embora permanecesse imóvel naquele instante, o que a tornava ainda mais deslumbrante. 
De pé, magra, alta e tão inacreditavelmente delineada pelo equilíbrio de suas curvas, trazia na face uma expressão inusitada. 
Ao lado havia uma pequena mesa redonda cujo centro era habitado por um esplendoroso jarro de orquídeas. Sentou-se na única cadeira. E foi ali, nua, ou bem melhor, vestida de salto alto, que cruzou a perna direita sobre a esquerda e armou-se de papel e nanquim, deixando que sua mão esquerda - sim! porque canhota - a conduzisse naquela criativa febre matinal. 
E eis que o verbo calou, tornando pouco úteis as palavras, porque tudo nela era a própria tradução da similitude do que de mais sublime podia-se sonhar do charme feminino: 
tão perfeita e tão simples; tão divina e tão banal. esqueceu-se ela de mim por alguns minutos. E eu, de mim mesmo, posso dizer, 
enquanto admirava o efeito da impertinência do colar, que teimava em revelar a apaixonante assimetria angular de suas aureolas.

p/ Millene
Hedre L. Couto.


sábado, 21 de janeiro de 2012

'do substantivo penico, e dos [advérbios] morangos e chantili'

Prometo-te que vou comprar de volta aquela mesa.
Mesa de mármore.
De ferro e mármore.
Redonda!
De ferro, mármore e carne.
Nossa carne... Sobre a mesa!
Ali mesmo, no cantinho direito da sala,
quase entrando ao quarto;
ali, de onde tinhas desavergonhado receio de atravessar para o banheiro, nua, temendo os olhares da rua;
naquele canto, novamente, teremos nossa velha mesa,
e eu, terei a ti, o teu cheiro em mim, teus odores, teus suores, nossos pecados secretos.
Porque tenho tentado outras mesas, e não podes imaginar...

p/ Carolina.
Hedre.

"MEU VINHO BRANCO POR UMA MÚSICA!'

Sussurras... E es tu, roçando teu gosto no meu rosto. Toda em um sorriso. Com a língua úmida, ardente, vermelha: no meu ouvido. Lascivo, sob o olhar do vento que lambe as cortinas do teu ninho, rende-se teu ventre inquieto. Respiras... nosso gozo matinal. Depois, na felicidade leve do momento, escapas alguns centímetros de mim. E então, orgulhosa, embalas os longos cabelos lisos e pretos, e, eu, perdido, qual Fidélio na prisão, contemplo a maior das irracionalidades: a geografia absoluta de tuas costas nuas. Tu, com tuas costas nuas e brancas, onde estão fotografados meus dedos, meus dentes, meu suor, meu sêmen. Tu, com tuas costas nuas e brancas, es um anjo, uma música de Beethoven. pra você, por ser a mais linda mulher.


HEDRE

Millene sob polaroid II


Avenida em madrugda deserta. E ambos indescritivelmente bêbados, cambaleavam e explodiam em ataques de risos. Do fundo, vinha a música de Ella Fitzgerald. E era uma felicidade louca, ora agarravam-se ao hidrante mais próximo ora colavam um corpo no outro num desespero festivo. De repente, ela estancava o riso, ficava séria e berrava (ofendida) que ele a enganava - Não! Não! Como era ele capaz? Tratava-se de Janis Joplin e não, de Ella Fitzgerald!. Criava-se um brevíssimo silêncio e, em seguida, 'risavam-se' novamente, entregando-se a reiterados goles da garrafa de uísque e a afagos mais profundos. Começou a chover: não deram pelota! As ruas pareciam-lhes todas iguais: decidiram-se perdidos! E então, grudados, caminharam, caminharam e encontraram uma praça bastante improvável. Sentaram-se numa fonte. Ela insistia em tentar fazer planos, mas mal conseguia raciocinar. Havia muitas estrelas no céu. Acabou o uísque. Ela lembrou-se que tinha moedas. Fizeram pedidos secretos à fonte. Adormeceram. Cada um ao som do seu jazz preferido,

p/ Millene
Hedre L. Couto.

Carolina e morangos sob polaroid


E teu vestido preto

e sem vestido preto

e sem vergonha

e sem nada mais,

além de teus cabelos pretos,

que já enlaço entre minhas mãos

e perdemos a taça

e derramas a fome de teus olh0s pretos,

sob os meus

e teu nariz que pede

e teus poros abertos, cuja primeira gota

desliza da intensidade da nossa colisão

juntando-se a mil outras, que derretem

o teu ventre em instinto, em desejo,

em urros (!) que soltas pelos dentes, pela pele molhada, sedenta, grudenta e doce, doce a bradar [desesperadamente] que ama

uma chuvinha passageira...

Hedre L. Couto.

doz dânia


Não me peças nada

Não me digas nada

Só me olhe...

Hoje o dia foi difícil

Parte da vida está uma B.

Mas não me digas nada

Sem cobranças

Só me olhe

Hoje tudo escureceu

Certas coisas não tem mais sentido

Talvez eu esteja caindo

Mas não me digas nada

Me poupe das verdades habituais

Só me ampare

Sem promessas

As minhas, então, nem pensar

Me dê um sorriso

A língua no meu rosto

A mão na minha mão

Porque hoje o dia foi de se F.

E só me olhe...

Nunca confie em mim.

SAMBA, PAULINHA, SAMBA

no tempo de Adoniran Barbosa, 
meu nome era Cavaquinho de Oliveira Penteado, 
tinha uma maloca na moca, e uma mulata carioca,
que me beijava de manha, com a boca de Café,
meio dia, com a boca de feijã
e de noite, com a boca de tesão. 
ah, São Paulo, São Paulo! São Paulo 
ainda gosto de samba, mas não sei sambar 
e Adoniran se foi, meu nome não é mais Cavaquinho, 
não tenho mais coração, mas, 
na Moca, santa maloca, 
ainda se pode encontrar uma Ana Paula, 
um lindo demônio que faz garoar. 
samba, Paulinha, samba! E me dá um pedaço de pizza...